quinta-feira, 17 de maio de 2012

O mundo se desfaz lá fora, me arrumo todo para juntá-lo, mas de repente, me renuncio ao silêncio de um quarto escuro. Por quê?

segunda-feira, 14 de maio de 2012


“Quero um dia de sol forte para uma morte feliz
Quero a presença de um anjo e seu cavalo alado
Quero risos e crianças correndo para todo lado
Só não quero aquela sua cara triste de morto infeliz.”


Para Carlito (morto em acidente de carro em 2009) e Benedito (morto em acidente de carro em 1992): Meus irmãos amados

Será o fim dos biscoitos Globo?

- Sal ou doce? Biscoito Globo, quem vai? 

Esse é um chavão que passei a ouvir nos sinais de trânsito e pontos de ônibus cariocas desde que cheguei ao Rio em meados dos anos 90. Mas como se sabe, a marca existe há mais de 40 anos, e tanto a embalagem quanto o sabor mantiveram-se inalterados durante todo esse tempo.

Os biscoitos Globo são umas rosquinhas de polvilhos, crocantes, vendidos geralmente por um ou dois reais, para facilitar na hora do troco. Eles são deliciosamente viciosos. Quem come um normalmente come o segundo, e devora um após outro até não restar mais, conforme atesta o slogan na embalagem: “o biscoito que você não pára de comer”. Quando se come, é inevitável não deixar cair farelos pela roupa ou no banco do carro. 

Pegar a Avenida Brasil ou a Linha Vermelha de manhã logo cedo, lá pela metade do percurso, quando temos que dirigir quase sempre na primeira marcha devido ao congestionamento, surgem, do nada, os indefectíveis camelôs com aqueles saquinhos brancos, que exibem um bonequinho estilizado com cara de “mapa-múndi” impresso no invólucro. Bonequinho verde, biscoito salgado; vermelho, biscoito doce. 

Todos os dias ao sair de casa, quando lembro do engarrafamento, logo vêem à mente os biscoitos de polvilho. Confesso que sempre penso em resistir à tentação de comprá-los, mas não dá: é só dar de cara com um vendedor e lá estou eu, pedindo um saquinho do doce. O mais estranho é que só percebo que acabou quando já comi o último, e é justamente quando vem a vontade de quero-mais. 

Semana passada, para a minha surpresa, notei que o Globo não era o mais oferecido pelos ambulantes, e sim uma novidade: o biscoito Extra. É um saquinho branco, tal qual o do globo, só que mostra a figura de uma garotinha segurando uma rosquinha na parte alta da estampa, e na de baixo, outra figura de um símbolo carioca: o Pão de Açúcar. E na diagonal do desenho, a palavra “extra” em azul turquesa num fundo amarelo. Dando-se a impressão que compramos o Globo. Embora o sabor seja bastante parecido, tenho uma sensação que comendo este cometo uma traição ao outro. Mas, segundo Gabriel, um dos donos da fábrica dos biscoitos Extra, entre as duas marcas a concorrência é sadia, e conforme me assegurou, a matéria prima utilizada na fabricação é a mesma para ambas. 

Não dá pra saber se o carioca ainda prefere o Globo ou se já o trocou pelo Extra, mas quanto a mim, ainda guardo a preferência embutida nesse hábito que carrego: a fidelidade. É mais ou menos como afirmar que quem acha melhor Coca-Cola também bebe Pepsi. Pode até ser que sim, mas mesmo assim ainda dirão que o gosto em nada se assemelha. 

De qualquer forma, os ambulantes continuarão impondo seus produtos. E, nesse caso, a marca é o que menos importa. - Doce ou salgado? Biscoito de polvilho Extra, quem vai? 

(Publicado originalmente no portal www.cronicascariocas.com.br em 2006)